A Embraer deve obter, ainda neste mês de junho, um financiamento, junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), além de bancos privados, no valor de US$ 600 milhões para atender a sua demanda de jatos executivos e comerciais para os próximos meses, disseram fontes do governo à agência Reuters, em condição de sigilo.
De acordo com as fontes consultadas pela agência, as negociações estão em ritmo acelerado. Ainda conforme os ouvidos, o crédito pode ser liberado já nas próximas semanas. Fazem parte do pool de bancos que vão oferecer o crédito, além da empresa estatal, Bradesco, Santander, Itaú, Citibank, Morgan Stanley e Natixis.
No balanço do primeiro trimestre deste ano, a fabricante brasileira de aeronaves anunciou que tem no horizonte cerca de US$ 16 bilhões em encomendas firmes para os próximos anos. “Isso mostra bem a solidez e o equilíbrio da empresa em meio à crise que afeta o setor aéreo”, disse uma das fontes consultadas pela Reuters.
“Ninguém sabe ao certo como vai ser o futuro da aviação comercial, mas pode ser uma era de aviões menores e voos privados e com menos gente voando. A Embraer tem aviões menores e atua em outras áreas da aviação. Essa formatação mostra que a companhia tem valor e potencialidade”, acrescentou uma segunda fonte.
Financiamento com garantias
A linha de crédito que será liberada, de acordo com as fontes, será no modelo pré-embarque, em que se financia o produtor local do produto/ativo que será vendido no exterior, e a operação terá garantias para dar suporte à operação. “O financiamento combinado entre os bancos tem garantias, ele vai direto para a Embraer e não para os compradores das aeronaves. Não é no modelo pós-embarque, e sim pré- embarque”, afirmou a segunda fonte.
O governo negocia, desde abril, com as principais empresas aéreas brasileiras um socorro para enfrentar os efeitos negativos da pandemia do novo coronavírus, que abateram o setor. A ajuda do BNDES e bancos privados deve sair no começo de julho, e o pedido de recuperação judicial da Latam nos Estados Unidos foi um complicador adicional para as tratativas.
A Embraer também pode ser beneficiada por essa ajuda com um montante de aproximadamente US$ 400 milhões, mas, de acordo com as fontes, essa operação (que poderia incluir a emissão de debêntures conversíveis e emissão de bônus) deve ficar para o próximo ano para a fabricante nacional. A empresa brasileira ainda viu frustrada este ano uma parceria com a norte-americana Boeing, para a criação de uma joint venture para fabricação de aeronaves comerciais.
Novas negociações
A Reuters já havia divulgado, na semana passada, que a fabricante brasileira tem negociações iniciais e preliminares com empresas da Rússia, Índia e China para eventual futura parceria. As conversas, mesmo que iniciais, já fomentaram manifestações negativas da Abradin, associação que representa os acionistas minoritários das empresas.
“A Abradin está atenta às possíveis negociações envolvendo a (chinesa) COMAC e tomará as medidas necessárias para que fraudes contra investidores sejam perpetradas. É absolutamente inadmissível que qualquer negociação seja conduzida pelos mesmos elementos que conduziram de forma fraudulenta as negociações com a Boeing. A Boeing usará, sem dúvida, em sua defesa, as fraudes elencadas pela Abradin em sua representação junto à União Europeia para justificar desfazer o negócio”, disse, à agência de notícias, o presidente da Abradin, Aurélio Valporto.
Procurada pela Reuters para falar sobre o novo financiamento, a Embraer ainda não se pronunciou.
Embraer apresenta prejuízo de R$ 1,28 bi no primeiro trimestre
A Embraer registrou um prejuízo líquido atribuído aos acionistas de R$ 1,276 bilhão no primeiro trimestre, um salto de 694% na comparação com o prejuízo de R$ 160,8 milhões nos três primeiros meses de 2019, segundo informou a fabricante brasileira de aeronaves nesta segunda-feira (1º).
Embora o desempenho operacional da companhia tenha piorado no trimestre, o prejuízo foi pressionado principalmente pelo diferimento de imposto de renda e contribuição social, com efeito negativo de R$ 571,2 milhões, por uma provisão adicional para perdas de crédito durante a pandemia de Covid-19 de R$ 163,1 milhões e por uma baixa no valor da fatia detida na Republic Airways Holding, também decorrente da crise sanitária, de R$ 108,6 milhões. Ainda conforme a companhia, descontados esses eventos, o prejuízo líquido ajustado foi de R$ 433,6 milhões, ainda assim pior que a perda de R$ 229,9 milhões no 1º trimestre do ano passado.
A receita líquida da Embraer teve queda de 8% na comparação anual, somando R$ 2,874 bilhões no 1º trimestre, com queda em praticamente todos os negócios, com exceção da aviação executiva.
A empresa disse que sua decisão de colocar funcionários em férias remuneradas em janeiro para finalizar os detalhes do acordo com a Boeing foi responsável por uma queda de 23% na receita. Em março, a Embraer novamente afastou os trabalhadores devido à pandemia de Covid-19.
O resultado operacional antes de juros e impostos ajustado ficou negativo em R$ 209,1 milhões, quase quatro vezes acima do resultado também negativo de R$ 53,7 milhões um ano antes, refletindo a queda nas entregas no trimestre e os impactos da Covid-19. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou R$ 47,6 milhões, frente a R$ 120 milhões nos três primeiros meses do ano passado.
Embora tenha registrado mais um resultado trimestral negativo, a Embraer informou no balanço que a “liquidez da companhia permanece sólida”, e que fechou o mês de março com R$ 13 bilhões em caixa e dívida líquida de R$ 6,923 bilhões. A Embraer entregou cinco aeronaves comerciais e nove executivas, totalizando 14 aeronaves no 1º trimestre. No mesmo período do ano passado, foram entregues 22 aeronaves: 11 comerciais e 11 executivas.